segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Editoria Web@Tecno

Observatório da Imprensa, primeiro media watching do Brasil.


Hoje em nosso cyber-papo, vamos falar de “veículo jornalístico focado na crítica da mídia”, o Observatório da Imprensa. Claro que como todo veículo jornalístico, em sua maioria, ele encontra-se na internet, na televisão e no rádio.

Porém, antes de fazer alguns apontamentos sobre o histórico, objetivos e um pouco do processo de construção do Observatório da Imprensa, quero levantar uma questão que me aconteceu. Confesso que a origem do programa OI não era do meu conhecimento. Não me envergonho disso. Pelo contrário, desse mote é que se vê o quanto é importante sabermos a origem das produções midiáticas, de um modo geral, se quisermos ter um norte melhor para avaliá-las, qualificá-las e fazer delas uma opção como leitora, ouvinte, internauta ou telespectadora.

Conheci o OI em 2005, numa dessas noites em que a gente procura algo de bom para assistir na TV, numa de canal aberto. Um adendo, em minha avaliação pessoal, existe poucas produções tanto na TV aberta, quanto na por assinatura, as quais sejam proveitosas de se assistir.

O curioso também é que o OI fez o percurso inverso ao que têm feito outros veículos de comunicação, como a televisão e o rádio e suas relações com a internet. Ele é o primeiro caso de sucesso que sai da internet e vai ocupar espaços nos meios de comunicação de massa, a TV e o rádio. Foi no seu site que descobri essa característica histórica.

Vou falar-lhes um pouco de sua história, o que pode ser complementada no próprio site do Observatório da Imprensa que é vastíssimo de informações e que está hospedado no portal da IG.

O projeto original foi organizado pelo Labjor - Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com seu desenvolvimento sob a égide do Comitê Gestor Internet no Brasil, nessa versão online, iniciada em abril de 1996, tornar-se um projeto do Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo. Seu objetivo é o de acompanhar o desempenho da mídia brasileira, com criticidade. É uma sociedade civil, não-governamental, não-corporativa e não-partidária, constituída em 2001.

Um parêntese que quero abrir: o jornalista Alberto Dines, que é o editor responsável pelo OI. Tenho uma admiração por ele. Aos 77 anos, “ele publica e é noticiado desde 1952. Há meio século ele traça roteiros, escreve livros, cria jornais, revistas, vai ao rádio, à televisão e critica a mídia e seus representantes.” Sua importância também se dá ao nível de reconhecimento profissional no exterior, além do acadêmico. Tem expressão nas universidades brasileiras, portuguesas e americanas como um dos grandes mestres do jornalismo.

Segundo o Observatório da Imprensa, sua característica é de um fórum permanente onde há espaço para os usuários da mídia – leitores, ouvintes, telespectadores e internautas – organizados em associações desvinculadas do estabelecimento jornalístico, com oportunidade de interatividade em suas manifestações e participações, as quais poderão, desse modo, alterar o seu papel de agentes passivos, os quais desempenhavam antes, diante dos medias.

Uma observação significativa que o OI aponta é o “para que um Observatório da Imprensa?”

O de reverter à conjuntura em que a cidadania está posta como “um conjunto de consumidores, ficticiamente vocalizados por pesquisas de opinião pública que empregam metodologia quantitativa, necessariamente redutora, e com pautas alheias aos reais interesses e necessidades dos opinadores.”

Por serem os meios de comunicação de massa, produzidas, em sua maioria, por empresas privadas, as suas decisões são a de seus acionistas e representantes que as legitimam em relação ao que se veicula. Contudo o que deveria ser seguido é que o “produto jornalístico”, é inquestionavelmente um serviço público, o que é assegurado pela Constituição Federal de 1988, através de vários artigos, os quais lhe configura "garantias" e prerrogativas, os quais sinalizam vários deveres e responsabilidades sociais na produção da informação.

Em sua conclusão (SIC):

 “A Sociedade Civil deve abranger sucessivos níveis de monitoração e atuação, de forma a diminuir a distância entre os poderes e a cidadania, convertendo-se ela própria numa instância. No caso dos meios de comunicação de massa, o Observatório da Imprensa propõe-se a funcionar como um atento mediador entre a mídia e os mediados, preenchendo o nosso "espaço social", até agora praticamente vazio. Embora pioneiro este Observatório não pretende ser único. As suas atividades servem como convocação para outros grupos fazerem o mesmo.”

E, de fato isto aconteceu com a experiência exitosa do OI, na internet, surgiram outros, entre eles: Canal da Imprensa; SOS Imprensa; Mídia e Política; Monitor de Mídia; NEMP; Análise de Mídia; Agência Unama e ANDI.

Existem similares ao OI em outros países como os Estados Unidos, onde surgiu à idéia com a media-watching (a crítica da mídia), associada à idéia das experiências do já então ombudsman e do media-criticism, o qual designa como um meio sensibilizador à comunidade e aos profissionais da mídia para os arcabouços da função jornalística na sociedade moderna. Existem duas de destaques nos EUA, a FAIR (Fairness & Accuracy in Reporting), fundada em 1986, cujo objetivo é o de fiscalizar a intromissão do poder econômico e político na imprensa. Edita uma revista bimestral, Extra!. A outra, num aspecto conservador a Accuracy in Media, “mais inclinada para apontar as infiltrações e distorções liberais na grande imprensa americana. Embora concorrentes, completam-se, constituindo um sólido aparelho crítico, pluralista e democrático.”

Há outra na França, a Observatoire de La Presse, braço do Centre de Formation et de Perfectionnement des Journalistes (CFPJ), fundada em setembro de 1995. O OI, como experiência brasileira segue o modelo francês combinando duas entidades, uma formadora (o Labjor/Projor) e outra cívica.

Há o registro pelo OI de que a primeira organização designada como Observatório da Imprensa foi criada em Lisboa, três meses antes da francesa, entidade com a qual o Projor mantém sólidos laços de cooperação.

A perspectiva promissora dessa iniciativa trouxe como resultado à versão televisiva do site em maio de 1998, com produção da TVE do Rio de Janeiro, hoje TV Brasil e TV Cultura de São Paulo. Sua transmissão se dá semanalmente, para 27 capitais do Brasil, pela Rede Pública de Televisão, em sua maioria às terças-feiras, às 22h40, sendo que, apenas para São Paulo, ela acontece às quartas-feiras, à 0h10. Veja aqui a grade de programação, no site, pois há ainda retransmissões para os estados e diversas cidades do país, inclusive através de canais por assinatura.

Já no caso da versão no rádio, ela teve início em maio de 2005. É um programa de segunda a sexta-feira, produzido pela Rádio Cultura AM (1200 kHz) e transmitida também pela a Cultura FM (103, 3 mHz), ambas de São Paulo, às 9h; Rádio MEC AM (800 kHz) e FM (98,9 mHz), às 9h30, no Rio de Janeiro; Rádio Nacional em Brasília, FM (96,1mHz), às 10h30 e AM (980 kHz) às 12h30; Rádio Universitária Federal do Rio Grande (RS) FM (106,7 mHz) às 11h30 e na Rádio Inconfidência AM (880 kHz), às 9h30, em Belo Horizonte.

No site, há uma série de opções, de informações além de seu histórico, objetivos, equipe, há várias seções, blogs, o OI na TV, com o último programa e os anteriores, horários, compactos e resumos. A apresentação é de Alberto Dines. No OI no rádio, uma produção da Rádio Cultura AM de São Paulo, com a apresentação do Luciano Martins e participação de Alberto Dines. No site os podcast dos programas podem ser ouvidos e lidos. No link Serviços, encontram-se as edições anteriores por ano, boletim por e-mail, biblioteca, classificados de anúncios gratuitos ligados aos serviços de jornalismo, imprensa, mídia e comunicação. Quem oferece emprego e quem oferece os seus serviços, também o Netbanca. E encerrando, o RSS links e o balanço das urnas eletrônicas (apuração das enquetes feitas no site). Pode-se fazer o contato com o Observatório da Imprensa através do Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, por telefone e endereço.

Você também pode ainda enviar o seu artigo através do e-mail canaldoleitor@ig.com.br, indicando nome, profissão, cidade e telefone para um possível contato para uma possível veiculação. Não é interessante?

Agora para fecharmos, não poderia deixar de transcrever o último post da seção Imprensa em Questão, já que estamos às vésperas da 1ª Confecom, assinado por Alberto Dines, no último dia 08/12/2009.

Um abraço.

Nelma Espíndola, assistente social. E-mail de contato: nelmaespindola@gmail.com

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Imprensa em Questão

AGENDA PARA A CONFECOM


A mídia se ilude e espera modelos mágicos

Por Alberto Dines em 8/12/2009

O barão da mídia anglo-saxônica Rupert Murdoch acredita em contos de fadas: imagina que se os portais de notícias e os mecanismos de busca da internet resolverem cobrar pelo copioso conteúdo que oferecem gratuitamente cairá o número de acessos, aumentará a procura por jornais que os abastecem e, assim, garante-se a sua sobrevivência.

Por outro lado, as telefônicas brasileiras estão esperando mais uma dádiva da divina providência e pressionam governo e legislativo para obter o direito de transmitir a programação da TV por assinatura e rapidamente se transformarem em produtoras de conteúdo. Com isso, poderão oferecer noticiário televisivo por meio de celulares sem depender de concessões, como acontece com o atual sistema de radiodifusão. E como fica a cláusula da isonomia?

Quem garante que o cidadão vai ficar o dia inteiro de olho na telinha do celular para saber o que está acontecendo? E quem gosta da TV para entreter-se – caso da massa de cultores das telenovelas – abrirá mão da telona de alta definição com qualidade de cinema?

Outro grupo de devotos de mágicas, também abrigados sob o manto das operadoras de telefonia, apostam todas as fichas no projeto de grandes jornais virtuais. Fizeram as contas e concluíram que liberados dos custos do papel e da distribuição poderão oferecer na web um produto de alta qualidade jornalística por um quarto do custo de um veículo impresso.

Informação trabalhada

Estas devoções podem se materializar tanto no varejo como no atacado. Mas, por enquanto, são hipóteses, no máximo wishfull thinking. Ninguém garante que o Google transformado em commodity continuará a ser utilizado com a mesma intensidade. Por enquanto é um bônus oferecido gratuitamente pela indústria digital. Seus consumidores estarão dispostos a pagar por aquilo que sempre receberam de graça? E a pirataria vai acabar? A geração de novas tecnologias será de repente estancada? A humanidade está disposta a retroceder e perder o privilégio da informação aberta e universal?
 Por outro lado, ninguém garante que os ex-leitores de jornais de repente voltarão a comprá-los para ler as mesmas banalidades e abobrinhas que aparecem na TV aberta. A comparação entre os custos de produção de jornais abertos e seus equivalentes digitais precisa levar em conta que uma equipe produz uma edição impressa por dia, sete dias por semana, enquanto um portal noticioso da internet é contínuo, ininterrupto. Serão necessárias equipes maiores, imensas, não apenas para produzir novas informações, mas para juntá-las e contextualizá-las permanentemente, 24 horas por dia. A não ser que na internet brasileira seja consagrado o atual modelo híbrido no qual o fluxo noticioso é intermitente e limitado, das 8 às 22 horas.

Certo, comprovado e garantido: o cidadão quer informação, e informação de qualidade. Como afirma o veterano Sir Harold Evans em seu recente My Paper Chase, o público primeiro seduz-se com opiniões e truculência, em seguida busca informação trabalhada, investigada, obtida com muita transpiração.

Este mesmo Evans notabilizou-se quando dirigiu o Sunday Times e numa admirável cruzada jornalística enquadrou a indústria farmacêutica britânica, obrigando-a a indenizar as famílias das crianças cujas mães tomaram o medicamento Talidomida durante a gestação.

Bolhas e modismos

Um portal noticioso da internet conseguiria concentrar suas baterias numa cruzada capaz de galvanizar uma sociedade inteira? O propinoduto de Brasília conseguiria causar a mesma repercussão se fosse veiculado apenas na internet ou mesmo na internet+TV aberta?

O jornalismo não foi engendrado nem mantido ao longo de quatro séculos por um "modelo de negócio". Sua gênese está assentada em paradigmas morais e exigências públicas. É um erro ficar à espera de fórmulas messiânicas, salvacionistas, que jamais produzirão qualidade e fidelidade dos consumidores. O que enfraqueceu o jornalismo nas duas últimas décadas foi a sua ligeireza, sua submissão às bolhas, aos modismos e, sobretudo, sua adesão ao oportunismo político.

Eis ai uma agenda para esquentar a 1ª Conferência Nacional de Comunicação. É uma lástima que os empresários não queiram debatê-la.
 
                                                                                Ique
Alberto Dines




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