sábado, 17 de abril de 2010

Editoria Caleisdoscópio Baiano

"A mídia fala para quem compra na Daslu".
Entrevista exclusiva com Mino Carta


*Claudia Correia

Fotos: Assessoria Dep.Emiliano José










Acabo de chegar da palestra de Mino Carta, diretor de redação da revista Carta Capital e jornalista de longa trajetória, na Faculdade de Direito da UFBa, aqui em Salvador, nesta sexta (16) de céu limpo. São Pedro nos deu uma trégua, depois de dois dias de alagamentos e encostas em risco.

Com o sugestivo título “O partido político da Mídia”, a exposição dele, regadaa três copos de cerveja, atraiu 300 professores, estudantes, “intelectuais” e políticos da boa terra. Até o ex-ministro Waldir Pires deu o ar da graça.

O evento é parte dos Seminários “A Política e a vida na esquina do mundo”, promovidos pelo Grupo de Estudos de Comunicação e Política da UFBa, coordenado pelo professor e deputado federal Emiliano José (PT-BA). 

Confesso que esperava mais. Minha expectativa é que ele fizesse uma análise mais profunda dos aspectos ideológicos da mídia. Ele fez uma dura crítica ao poder manipulador da grande mídia, aos interesses políticos que direcionam a cobertura política dos veículos dominantes e rechaçou a imparcialidade jornalística. Abertamente, afirmou que no momento certo a Carta Capital apoiará Dilma para presidente e denunciou a mentira e a distorção da realidade promovidas pela Rede Globo. 














“Para mim a fidelidade e a realidade factual são essenciais ao bom Jornalismo. O espírito crítico e a fiscalização do poder também devem ser praticados. Eu aprendi com Hannah Arendt a compreender a realidade factual”, declarou ele sob aplausos entusiastas da platéia.

Às duras penas, eu consegui uma exclusiva com Mino Carta para o nosso blog. Alguns dos temas da entrevista ele abordou na sua palestra:


Claudia Correia: Como se dá a ação política da mídia?

Mino Carta: Onde há poder e disputa por ele, há política, ela permeia nossa vida, é uma companheira inseparável. Eu escolhi uma profissão que me obriga a fazer política, escolhas. A mídia dominante fantasia, manipula e mente. Ela é condenável por causa disso e é medíocre. A mídia representa um partido mais importante e mais amplo do que os partidos políticos brasileiros que se comportam como clubes sociais que servem a uma minoria que não quer que o Brasil seja o melhor país do mundo, como ele pode ser.

A mídia brasileira é um dos rostos dos donos do poder, da elite do país, a pior elite do mundo. O país apresenta vícios oligárquicos. A mídia de hoje é a mesma que implorou o golpe de 64, que chamava de “revolução”.

CC: Mas os partidos não são fundamentais para a democracia?

MC: A chave da democracia é a inclusão. A liberdade sozinha é pouco. A igualdade é que caracteriza mesmo quem é de esquerda. Quem se empenha pela igualdade é de esquerda de fato.

CC: E como a população reage a esta dominação midiática?

MC : Em 2002 e 2006 a mídia fez tudo para impedir a eleição de Lula, você lembra?Ela devia refletir quem a lê. Ela fala para quem compra na Daslu. O povo não sabe dela, ignora e faz muito bem. Ela atinge uma minoria. Na televisão o povo assiste mesmo é novela, Big Brother mas não se vê no noticiário.

Tivemos uma colonização predatória, três séculos de escravidão, uma independência feita por acidente e uma República proclamada por militares. Construímos uma desigualdade social profunda e o Brasil cresce à revelia disso.

CC : E a produção jornalística com as novas tecnologias, blogs e internet?

MC : Eu não acredito em objetividade jornalística, é uma balela. A subjetividade está presente em cada vírgula que colocamos no papel. O que se deve pedir aos jornalistas é que sejam honestos.

A internet é um instrumento extraordinário mas, é mal usado. Eu tenho medo do computador, não uso. Temo que ele me engula, muitos já foram engolidos e digeridos. Muita gente se esconde por trás da internet.

Por fim, questionei sobre aos desdobramentos da I Confecom e as expectativas sobre a Política Pública de Comunicação mas, ele desviou o assunto para criticar a TV pública e o documento do Plano de Direitos Humanos sem acrescentar muito.

Valeu ter ido. Foi bom perceber o grande interesse do público pelo tema e a presença vigorosa de jovens, futuros jornalistas, sempre tão carentes de uma reflexão mais crítica sobre o papel social da mídia. Revi colegas, militantes e estudantes de Jornalismo, ávidos por referencias éticas para a árdua tarefa de rimar a profissão com a Ética.


*Claudia Correia, assistente social, jornalista, profª da ESSCSal e Mestre em Planejamento Urbano. Contato: ccorreia6@yahoo.com.br

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Quem é Mino Carta



Começou a carreira na cobertura do mundial de futebol de 1950 como correspondente do jornal "Il Messaggero" de Roma. É colaborador da revista "Anhembi", fundada e dirigida por Paulo Duarte, (1951 / 1955). Redator da agência "Ansa" em São Paulo (1954 / 1956). Redator na Itália dos jornais "La Gazzetta del Popolo", de Turim, e "Il Messaggero" (de 1957 à 1960) e, no período, correspondente do "Diário de Notícias" do Rio e da revista"Mundo Ilustrado".

Foi ainda fundador e diretor de redação da revista "Quatro Rodas" (1960 / 1964). Fundador e diretor de redação da Edição de Esporte de "O Estado de S.Paulo" (1964 / 1965). Fundador e diretor de redação do "Jornal da Tarde" (1966 / 1968). Fundador e diretor de redação da revista "Veja" (1968 / 1976). Fundador e diretor de redação da revista "Istoé" (1976 / 1981). Fundador e diretor de Redação do "Jornal da República" (1979/1980). Diretor de redação da revista "Senhor" (1982 / 1988). Diretor de redação da revista "Istoé" (1988 / 1993). Fundador e diretor de redação da revista "Carta Capital" desde junho de 1994.

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