terça-feira, 20 de abril de 2010

Editoria Jornalismo na Correnteza

Na eleição, como na guerra, a primeira vítima é a verdade


                                                                                                Arqueiro egípcio


Ana Lucia Vaz*


A campanha eleitoral para sucessão presidencial já está a todo vapor na mídia. Há quem diga que nunca esteve fora. Mas tudo indica que, no próximo período, vamos assistir a um fenômeno novo, em termos de Brasil. Pelo menos desde a retomada das eleições presidenciais, em 1989.

Toda tentativa de previsão é um risco monumental de cometer erros grosseiros. Ainda mais nesses tempos de velocidade e complexidade global dos movimentos e da comunicação. Mas minha aposta não é exatamente uma previsão. É apenas uma constatação dos sinais do presente e uma aposta em sua intensificação.

O Rio de Janeiro debaixo de água e terra, comprei as revistas da semana para acompanhar o debate. Duas surpresas. A primeira é que a campanha presidencial mereceu, em geral, mais atenção do que as centenas de mortos no Rio de Janeiro. Mesmo da revista Época, sediada no Estado. Aliás, a Época mais parecia uma publicação de campanha do PSDB. O segundo estranhamento foi perceber que a capa da Veja e da Carta Capital tinham manchetes parecidas. Deve ter sido a primeira vez, na história das duas publicações. As duas culpavam os governos pela tragédia das chuvas.

Eu já tinha me surpreendido, dias antes, vendo o Jornal Nacional da Rede Globo fazer matéria crítica incomum, mostrando que a Prefeitura de Niterói gasta com maquiagem muito mais do que seria necessário para resolver o problema habitacional da cidade. Por outro lado, as chuvas de São Paulo foram discutidas, tanto na Rede Globo, quanto pela Veja, como fenômeno climático. Por que, então no Rio de Janeiro, descobriu-se as responsabilidades governamentais?

A Revista do Brasil[i], criada e sustentada por entidades sindicais e dos movimentos sociais, avisa, em sua edição de abril: “Diante da popularidade do governo que combate há oito anos, a imprensa conservadora se organiza como nunca para tentar evitar nova indigestão eleitoral”[ii].

Mas, não se iluda, a Revista Brasil também tem seus compromissos. Como, aliás, qualquer publicação.

Não existe isenção em jornalismo. Isto, até os manuais das redações comerciais avisam a seus jornalistas. Embora na auto propaganda digam o contrário. Mas o fato de todo discurso jornalístico estar comprometido com o lugar político e social ocupado pelo sujeito que o produz, não elimina a noção de verdade. Não a verdade filosófica, muito menos teológica. Mas a verdade que é o oposto da mentira.

Em tempos de paz, uns mais, outros menos, os jornalistas são pressionados a assumir um compromisso também com a verdade (além daqueles políticos). Em tempos de guerra, o compromisso político atropela todos os outros. E os moradores das favelas, atingidos pelos desabamentos, serão soterrados pelas campanhas eleitorais.

Quando a disputa eleitoral tem, no subsolo, a guerra pelo controle de uma das maiores e melhores reservas de petróleo do mundo, é de se esperar muita truculência no aniquilamento da verdade. Afinal, estamos falando de um dos principais motes das guerras, no planeta.

A mídia comercial sempre fez campanha eleitoral, em nosso país. Mas há pelo menos dois elementos bem diferentes, este ano. O primeiro é o peso das descobertas do pré-sal a determinar os interesses geopolíticos no continente. O segundo é o crescimento indiscutível da comunicação alternativa aos grandes conglomerados comerciais. A briga vai ser grande! E feia!

Tomara que nosso blog sirva aos leitores como uma bóia nas águas turvas. Não isento, claro, porque somos todos sujeitos de nossa história coletiva. Temos nossos compromissos! Mas honesto, porque mais comprometido com as questões sociais que com as lutas político-institucionais. Não seremos os únicos, com certeza.



*Ana Lucia Vaz, jornalista, mestre em Jornalismo (USP), membro da Rede Nacional de Jornalistas Populares (http://www.renajorp.net) , professora de jornalismo e terapeuta craniossacral.

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[i] A revista já pode ser encontrada em algumas bancas do Rio de Janeiro. Em seu sítio define-se assim: “O projeto começou no início de 2006 com a participação de 19 entidades e hoje conta com cerca de 50. O objetivo dos dirigentes sindicais, jornalistas e intelectuais reunidos em torno da iniciativa é proporcionar um conteúdo de qualidade e diferenciado: 1) para quem não está satisfeito com a que encontra na mídia comercial; e 2) para quem tem pouco ou nenhum acesso a outros veículos impressos de atualidades”. Para conhecer mais acesse: http://www.redebrasilatual.com.br/


[ii] Leia a íntegra da matéria no mesmo sítio.

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